“Odeio política!” “Política não é coisa de gente de bem!” “De novo esse papo de política?” “Política e religião não se discutem.”
Pois essas frases, que tanto escutei de muita gente no Brasil, parecem ter perdido efeito. Só que, após um domingo de eleição e em semana de julgamento de “mensalão”, a conclusão que posso tirar aponta que, de maneira geral, essa “conscientização” repentina não é produto de um maior interesse político dos brasileiros, fruto de maior leitura ou mesmo resultado do amadurecimento da população. Me parece muito mais um fenômeno resultante da inclusão digital e de um maior acesso a uma enorme gama de conteúdos. E só.
Nessa semana, os murais das redes sociais espelham mensagens de toda sorte: Uma classe média de esquerda engajada e indignada com a eterna escolha da classe baixa pelos líderes assistencialistas de direita, direitistas defendendo a condenação dos “petralhas”, esquerdistas remando contra a maré da mídia “golpista”de grande alcance e tentando evidenciar a falta de provas do julgamento, juiz do STF sendo eleito herói nacional por estar fazendo nada mais que seu trabalho (e digamos, de maneira não tão transparente assim). Algumas postagens ponderadas e bem articuladas, outras apedrejando sem dó nem piedade o pobre diabo que vende seu voto pro Dudu por um puxadinho no Favela Bairro. Cobertura em tempo real, por pelo menos tantos críticos especializados quanto aqueles que assistem à Copa do Mundo a cada quatro anos.
“Hoje em dia, todos tem acesso à informação” – o argumento é multi uso, seja para reclamar do voto mal dado, para protestar contra a mulher que quer para si as decisões sobre seus direitos reprodutivos, para repudiar a adolescente que engravidou, entre tantas outras situações plenamente evitáveis – presumimos.
“Temos que nos manifestar” ; “Compartilhe o link contra o PL n° tal, o senador fulano está anulando uma outra Lei n° tal”; “Vote contra”; “Vote a favor”.
Mas me pergunto: Temos mesmo TODOS acesso a tantas informações? E QUEM tem acesso a elas, como as filtra? E a minha conclusão até então é de que as respostas são não e não, e que quem tem mais acesso às informações é, muitas vezes, aquele que compartilha sem ler. Quer fazer bonito no perfil e não pesquisa se aquelas acusações são verdade, repetindo as opiniões alheias.“Aquilo que eu compartilho sem ler, o coração não sente.” Acusa sem provas e elege vilões e heróis que nem sempre condizem com a realidade. Acham que só suas opiniões valem, que o resto é o resto, que pobre vendedor de voto tem que morrer, que mulher estuprada é a vadia da história, que o mendigo da esquina do centro da cidade é vagabundo e que o país seria perfeito se todos fossem inteligentes como eles. E o governo, a culpa é sempre dele. As estruturas de governo são sumariamente ignoradas. Esquecem o papel do Legislativo, a culpa é mesmo toda da presidente, do prefeito. Esquecem também que os governos são eleitos pela maioria. Perdeu, play.
Boa parte desta parcela “bem informada” da população parece viver em uma bolha, uma realidade paralela, sem nem mesmo perceber. E o problema é que, meus caros, ativismo e participação política não devem ser simplistas assim. Quantidade de informação não equivale à qualidade da mesma. Acusar sem embasamento é tão anti-democrático quanto nem mesmo julgar. E é no mínimo ingênuo achar que vai mudar o país sentado em uma cadeira de frente para uma tela ecoando discursos sem embasamento, cujos sentidos se perdem no caminho. Tenhamos cuidado, porque peixe morre pela boca.